João do Rio foi um cronista habilidoso, que entendeu como poucos que sua escrita, mais do que o lustre da boa lira, precisava das pessoas. Essa necessidade, um tanto voraz e viciante, o transformou em ouvinte profissional e nos legou as andanças de um tradutor das ruas. O Rio de Janeiro, a partir de seus textos, deixou de ser a capital de uma República incipiente, que se esforçava em se afrancesar, para se tornar “a cidade de João do Rio”.
É nesta cidade que nasceu Luiz Antonio Simas, escritor que sempre teve João do Rio como tutor de sua curiosidade randômica. Esse ensinamento, de viés radicalmente democrático, deu vida a uma crônica do “corpo encantado”: de mãos dadas com João do Rio, Simas aprofundou seu interesse pelas gentes do Rio de Janeiro e percebeu que a verdadeira história da cidade está guardada na boca de cada um de seus moradores.
Essa lição, que faz doer as letras das enciclopédias, ressurge nesta sina teimosa, que ainda hoje se mostra desejante por novos ouvidos. Aqui temos, portanto, a rara oportunidade de revisitar A alma encantadora das ruas tendo como par as anotações de Luiz Antonio Simas. Uma viagem pelo Rio de Janeiro de ontem, que, em qualquer tempo, persiste em guardar seu fascínio por cada esquina. Essa é definitivamente uma cidade feita para se perder.